Olá, pessoas! Como vão? Quero compartilhar uma pequena experiência com vocês, um daqueles não raros momentos de sabedoria infantil.

Hoje meu filho de 5 anos não pôde ir à escola por estar um pouco adoentado. Nada demais, amanheceu com o nariz entupido e resolvemos deixá-lo repousar.

Estávamos nos despedindo, pois eu saía para o trabalho. Jornal na TV, sentei e o pus no colo para um afago e alguns minutos de argumentação:

— Papai, vamos brincar! Vem brincar comigo! — dizia meu pequeno leãozinho ainda trocando as letras.

— Ô, meu príncipe, o papai tem que trabalhar. Lá é bom, vou ver meus amigos e trabalhar um pouco.

Confesso que não estava muito animado para sair, mas não faltaria com essa responsabilidade. Lembrei, então, de uma professora dele falando para ensinarmos aos filhos a importância do trabalho. Lembrei, também, das frustrações da vida adulta, dos carrascos da criatividade e da inovação que às vezes encontramos por lá, da depressão que veio desses impedimentos, e da falta de encanto que vejo nas pessoas de minha cidade.

— Mas, papai, o senhor tem que brincar comigo! Olha, vou construir uma arma pra gente matar monstros e uma nave para voar… – argumentou ele, cheio de histórias e viagens fantásticas.

— Filho, eu não sei mais construir armas e naves — rebati enquanto pegava um brinquedo de montar e fui construindo duas pistolas fantásticas com mira e tudo, e continuei: — Pois agora sou gente grande. Quando era criança sabia fazer essas coisas, mas agora desaprendi.

Ele foi logo pegando a primeira arma concluída e testando a mira, atirando em direção ao seu quarto vazio: pitshummm… bumm! Pshisssss…

— Papai, isso é uma questão de tempo, essa coisa de você virar adulto — explicou, olhando em meus olhos.

— É mesmo, filho? E como podemos resolver isso?

— Só se for voltando no tempo.

Agora já estava testando a outra arma, desta vez sem atirar; apenas desceu do colo e apontou a mira para mim enquanto fechava um dos olhos.

Perguntei como faríamos isso, como eu poderia resolver essa questão do tempo e voltar a ser criança para poder brincar com ele. Ao que ele respondeu com um tom mais grave – o máximo que um menino de sua idade pode alcançar – mostrando segurança com o peito estufado:

— Só tem um jeito: temos que ir à Lua…

— À Lua?!! Eu não sei como ir à Lua, como faço isso?

— Não se preocupe, papai, eu lhe levo. Vou construir uma nave e depois a gente vai. Lá você vai virar criança de novo.

Touché! Agora ele acertou em cheio. Minha mente voltou ao tempo dos sonhos de astronauta, das noites fitando a Lua e as estrelas. Lembrei que já fui Han Solo, e que também já fui Spock; que queria ser cientista e ajudar a mudar o mundo. Até ganhei o apelido de cientista maluco! Ali mesmo fui levado a meditar sobre a importância de mantermos os sonhos de criança, e que somente eu sou responsável por alimentar ou matar os meus.

Rapidinho lembrei do livrinho de Randy Pausch, cientista da computação como eu (certamente mais cientista que eu): A Lição Final. Uma leitura agradável, resultado de sua última palestra como professor da Universidade de Carnegie Mellon, que trata da importância dos sonhos de criança e de como realizá-los. Ganhei esse livro como presente da minha esposa: muito obrigado, Mô!

Concluí nossa conversa enquanto saía para o trabalho:

— Eu acho que vai dar certo, filho. Só de pensar em ir à Lua já me sinto um pouco criança novamente.